segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mundos de luxúria


Noite fria, 2h da manhã, as pessoas fazem a fila para entrar na discoteca. É sábado, chega a noite que mais rende no mundo nocturno.

Pride Bar é o local escolhido. Situado no Porto e com destaque na revista Noite.pt, este demonstra ser a escolha de muitos para começar a diversão.

Portas de madeira vermelhas, o segurança entrega o cartão, hoje o tema é “praia”. No pequeno hall que antecede a pista já se denota o mote de hoje, umas toalhas de praia no balcão de pagamento, pás e baldes de brincar, uma palmeira e um sofá de baloiço; tudo nos puxa para a temática e para a celebração do aniversário de Ira Star, uma das estrelas mais badaladas do local.

Segue-se a sala de café, um espaço amplo, um bar, várias mesas e cadeiras de palha, algumas pessoas conversam enquanto bebem um café, outras pedem a sua primeira bebida. A noite está a começar.

Na pista de dança

Passamos uma porta de metal com um pequeno vidro redondo no cimo, casas de banho à direita, outra porta igual e é então que vemos um lanço de escadas metalizadas que nos levam à pista.

Luzes psicadélicas pairam no ar e como é habitual no Pride, o DJ Petty, DJ residente, passa música house e techno, o local está cheio, as pessoas estão ao rubro e promete ser uma noite em grande.

O momento do show

Todos no local transpiram diversão. A alegria, o movimento, a dança. É então que a música pára e ouve-se o momento da apresentação. É altura das estrelas do Pride brilharem perante todos os presentes. Susana Mastroianny, Ramona Pink Floyd, Natasha Semmynova, Ira Star e Agatha Top são os transformistas que todas as noites protagonizam os shows, invadem o palco com vestidos exuberantes, uma música escolhida a dedo e a coreografia que irá ser representada.



Hoje começa com Ira e acaba como sempre com Susana, a grande estrela; segundo alguns, “a boss”. Após terminar a sua performance, anima sempre o público durante cerca de 15 minutos com piadas, muita ironia e sarcasmo. Todos gostam de a ouvir.

“Esta coisa do transformismo dá que falar”

Susana já não é considerada transformista, fez a cirurgia de mudança de sexo e vive como uma mulher. Quantos aos outros 4, estes sim são considerados transformistas. Vestem-se de homem de dia, são travestis à noite!

Fazer transformismo não é tarefa fácil, há muita exposição pública e é de opinião geral que o preconceito a este nível ainda é elevado na sociedade em que vivemos.

João, um dos espectadores, ao ser abordado acerca do que é para ele o transformismo, afirma não ter “uma grande ideia do que é, apenas tenho a pequena noção que homens normais do dia-a-dia, de noite se 'transformam' em mulheres lindas e poderosas.

Já Pedro desenvolve mais um pouco o seu ponto de vista: «show de transformismo» são shows onde as pessoas envolvidas são artistas, apesar de nem sempre considerados dessa forma e que se vestem, digamos que a rigor para apresentar o show, sendo que normalmente são homens que se vestem de mulheres, os chamados “drag” (dress as a girl) para fazerem shows dedicados ao público. É uma coisa que não é recente, já existe desde os anos 80 mais ou menos. Não devia ser tabu mas penso que ainda é um bocadinho. É uma forma de os artistas mostrarem o que sabem e gostam de fazer e também uma «profissão». Já para não falar que os shows são inspirados nas divas mais conhecidas, como cantoras pop conceituadas ou estrelas de cinema e baseados na beleza, luxúria e glamour.

“Ira faz anos”

Terminado o show, é anunciado que hoje há bolo para todos na entrada! Começam a deslocar-se para cantar os parabéns ao artista; vestido a rigor, hoje ele é a estrela principal da festa, é à volta dele que tudo gira nesta noite.

Longe das altas batidas da música, saem pela boca de todos as mesmas palavras: “parabéns Ira”. O contentamento é geral e a felicidade uma constante.

Já são 5h da matina, hora tardia. Para uns a noite acaba, para outros, porque não outra discoteca?! O destino de cada um torna-se incerto…